sábado, 7 de abril de 2012

Cartas de um náufrago


    Lançaram-me em um mar de ausências... O mar de águas densas que eu observava pela janela de minha casa, quando criança. Já estou aqui há algum tempo e o peso da água já não me sufoca mais. Aqui faz muito frio e eu estou começando a não sentir mais meu corpo. Eu ainda existo, tenho certeza disso! Digo isso, pois, nas ultimas semanas, a sua ausência foi a minha única companhia. É estranho dizer isso, mas... Aqui no mar, nós brindamos uma taça de vinho, exploramos lugares desconhecidos, ouvimos blues no pôr-do-sol, montamos uma banda de rock, conversamos por várias noites, cantamos, dançamos, brigamos, nos abraçamos, rimos e choramos. Tenho certeza, eu vivi isso com você!
     Cada lembrança sua apertou-me e aqueceu-me o peito por diversas vezes. E mesmo nos apertos eu sorria, pois esses eram de saudade. Numa noite dessas eu me surpreendi por lembrar de cor as falas dos nossos textos.
      Estou me adaptando com o peso deste mar e isso agora já não me incomoda mais. Meu único problema é o frio. Pegaram-me desprevenido, não tive o que fazer. Ao menos ainda restaram alguns goles daquele conhaque da noite em que de nada adiantou parar o filme, pois os donos do bar estavam jogando cartas.
    Talvez essa seja uma das únicas cartas que escaparão do terrível triturador de papéis que vem assombrando as bandas de cá. Ou não. Mas tudo bem, aquele triturador é um idiota... Não convém preocupação. Eu penso só naquele seu retrato que tirei de você recém amanhecida com um sorriso largo estampado no rosto. Ah, como sinto falta desse sorriso! Ou daquele retrato de quando eu disse a você que não haveria mais ingressos para o Pearl Jam.
     Eu queria poder te mostrar esse céu... Este daqui foi feito pra você...
     Somente seu...


Gabriel Lopes Sattelmayer