quarta-feira, 7 de novembro de 2012


     - Agora é a vez de sua agonia, senhor. Mostre-me  a sua tão anunciada fome de ser sólido! Vença meu humor sombrio e diga que não passo de um comediante de quinta! Diga-me, mas utilize o tempo que for necessário para responder... Onde estão as suas palavras de jovem escritor? Sucumbiu ao silêncio do campo, meu caro? Aquele campo que você abandonou a pouco sem pestanejar.  E das suas linhas empoeiradas, restou algo para ser lido? Não sei, mas não consigo ver o exército verde que marchava ao seu lado urrando hinos de prosperidade... Tome ciência de que além de você e eu não existe mais ninguém e que a minha derrota significa a sua eterna solidão. Então me teste! Desafia-me! Ganhe! Mostre-me que sabe dançar tão bem quanto sabe morrer e morra! Morra aos meus pés...
     *Ouviu tudo em silêncio, encarou-o como quem fuzila com os olhos, tirou um cigarro do bolso e o acendeu como se fosse um tiro. Partiu como se fosse indiferente e deixou somente seu cheiro de pólvora. Chovia...

Gabriel Lopes Sattelmayer