domingo, 20 de setembro de 2015

Mudança!

Não sei se ainda me restam amigos leitores nesse blog, mas se houver algum, eu vim aqui pra lhe informar de que o email de cadastro deste blog já não existe mais e recebi mensagem de possibilidade de ter outra pessoa acessando o e-mail e por medo de perder o blog eu o recriei em outro link e postei todos os textos desse blog no outro. Terão novos textos lá, pois estou voltando a escrever depois de um longo jejum.... Vamos ver o que vai dar..
Segue o link

http://gabriellsattelmayer.blogspot.com.br/

Gabriel

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Daquelas que o fogo consumiu



    As vezes penso que isso é um sonho. Vivo contigo dentro da minha cabeça. Passo o dia inventando histórias pra ver se diminui a falta que sinto. A falta do que desconheço. Fecho os olhos e deslizo o dedo por seus cabelos. Rio sozinho, me sinto um idiota. Degusto os sabores que você me causa e vou do desespero à felicidade na velocidade de um sorriso. Finjo que recebo cartas. Finjo que te escuto me chamar de dentro de meus sonhos. Ando nas ruas como se não fosse daqui. Procuro em meio à multidão a intensidade de seus olhos, mas não te encontro. Aguardo... Espero... Os dias correm e nada acontece.
    Penso que você gosta mesmo é de me encontrar nos livros, nas fotos, nas músicas. E realmente não seria diferente sendo uma criatura tão encantadoramente artística como é. E eu adoro! Me transformo em arte pra ser o que você quiser de mim. Porque a verdade é que eu balanço, resmungo, me escondo, mas não aguento. Sempre volto a te esperar...
     O problema, minha garota, é que não sei viver pela metade e a paixão eu sinto é até os ossos. E você anda muito dentro de mim, na mina cabeça o tempo todo. E as vezes penso que você se tornou invenção e que a minha paixão é sozinha. Por isso sempre vejo suas fotos e carrego gravado em mim todas as coisas apaixonantes que você me disse. E minha coletânea de blues... parece que foram escritos pensando em você. Conheço os limites e sei que vivemos de contratempos, mas... Se há em você a força que há em mim, não haverá o que nos separe.
      Tenho duas passagens pra um lugar que você não vai se arrepender de conhecer. No caminho eu te explico melhor.  Vem comigo?


Gabriel Lopes Sattelmayer    

domingo, 23 de março de 2014

Foda-se

- Pode me dar um trago desse cigarro?
- Pode, mas está no fim...
- Não tem importância. Aceito qualquer coisa!
- Quer um inteiro?
- Mesmo? Sério que você me daria um inteiro?
- Claro...
- Meu deus! Muito obrigado! Que bom que você se importa comigo, cara! As pessoas me veem como retardado. Quando a gente bebe, cara, você vira um retardado!
- Não precisa agradecer, não fiz muito.
- Não, cara... Obrigado! De verdade! As pessoas até evitam falar comigo. Elas me acham um retardado. E eu sou um retardado, cara! E sabe o que eu queria de verdade, cara? Um prato de comida! Cara... Você nem imagina quão difícil é conseguir um prato de comida.
- Conheço alguns restaurantes que dão o que sobra da comida do dia pra quem pede.
- Os restaurantes não nos ajudam, cara! Ajudam pessoas como você, mas pra nós cara... Não há comida. Pros porcos sim, mas pra nós não.
- Hmm...
- Você não precisa acreditar em mim.  Mas eu sei o que estou dizendo.
- Eu acredito, nunca pedi comida em restaurante pra saber... O que eu sei é de ouvido.
- E o pior cara, é que se você quiser beber... Quer beber, cara? Quer se drogar? Quer o que? A bebida mais cara do mundo? Essas sempre têm! Quer cheirar cara? Quer usar crack? Tudo isso tem de sobra. Mas comida, cara... Isso ninguém te dá. Você sabe o que é perder o direito de comer cara? Eu não estou aguentando nem ficar em pé de tão bêbado que eu estou, cara. E sabe que eu queria? Um prato de arroz! Arroz, cara... Puro mesmo. Eu só quero me alimentar. Se você jogar a comida no chão, cara... Eu como! Sabe por quê?  Porque foda-se, cara! Não importa como você chama a comida. Chama de lavagem? É lavagem que você quer me dar? Eu como, cara. Foda-se! Não é a maneira que você chama a comida que importa, cara. O que importa é o alimento.
- Mas você tem que se cuidar, cara... Pare de beber, nem que seja por um tempo só... Pode desenvolver uma cirrose... Perdi um amigo assim, já...
- Não é parar de beber, cara... Todo mundo tem direito de beber, de comer e de dormir, cara. Eu perdi o direito de comer e nem consigo mais dormir. Eu estou me tornando um zumbi, cara. E nem eu estou me aguentando. Eu estou com fome, cara! Se você quiser fazer algo por mim, cara... Dê-me uma marmita, cara! Independente da hora. Pode ser de manhã, de tarde, de noite! Se tivesse aqui, Cara... Eu comia agora mesmo e feliz! Não preciso de nada, cara... Não preciso de talheres, não preciso de prato. Eu como com a mão, cara. Essas necessidades, essas coisas pequenas já estão mortas em mim a muito tempo. Foda-se!
- Eu não sei o que te dizer, cara.
- Eu não estou querendo que você me diga nada, só quero que alguém me escute! Não quero ser visto como um retardado cara.  As pessoas só me dão bebida e não importa o valor da bebida, cara! Agora comida, nem um prato de arroz eu consigo, cara! Eu tenho cara de bêbado? Lógico né? HAHAHAHAHAHAHAHA
- Eu preciso ir...
- Nossa, cara! Desculpa! Nossa! Desculpa! Por favor, me desculpe! Eu estou sendo chato, não é? Eu estou te atormentando, cara!
- Não há o que te desculpar. Não há culpa. Você não me incomoda, pelo contrário. Eu conversei contigo, te ouvi. Mas agora chegou a hora de ir.
- Nossa, obrigado  mesmo! E me desculpe, de verdade!
- Imagine...



Gabriel Lopes Sattelmayer

Aguarde o sinal do fechamento das portas!

     Parei para descansar no fundo do poço da criatividade. Semana passada pari um texto. Tão doloroso que perdi a paciência e o arremessei ao fogo, meu maior leitor e confidente dos últimos tempos. Acontece que a máquina que me move estagnou. Caiu ao chão por falta de lubrificante. Nós estamos com sede! Precisamos de uma dose do que tiver de mais forte nessa Terra. Ou melhor, Terra não! A terra está sempre dividindo os limites do Céu e do Inferno. Eu quero uma dose de Céu! Do mais puro céu! Saltar do mais alto pico e cair macio como se tivessem revestido o mundo de feno. E que a certeza do chão macio não fosse me dada. Que eu sentisse cada fase da queda como se fosse meu ultimo suspiro de vida. E levantasse um tanto abobalhado como se tivesse sonhado a noite toda.
    Mas se essa alegria me fosse negada, que viesse o inferno, eu não me importo. Que todo o mundo mergulhasse em cinza e até a água amargasse a boca. Que eu sentisse desesperadamente insignificante qualquer que fosse o prazer meu. Que a solidão me arrastasse como imã para dentro de minha cabeça e lá eu permanecesse por meses. E que toda essa angústia me forçasse o grito. E que jorrasse como vômito todo o horror em forma de poesia.
    O que mata é essa mediocridade. Estado de satisfação e bem estar confortante. Nem tão lá nem cá. Essa falta de tempero me amordaça as mãos e delas não saem nem o “dó, ré, mi”. Mas não tem nada não... Esse incômodo é coisa besta. Um descanso para a inversão de polos que vem chegando. E disso eu só digo uma coisa. Viverei intensamente cada segundo!



Gabriel Lopes Sattelmayer

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Touch Me

     Dia desses vi Elena. Estava fraca, pálida. Largada no sofá com os olhos fundos e dizendo que queria morrer naquela noite. Sentei no chão perto dela e em silêncio iniciei a fita que estava pronta pra rodar no vídeo cassete. Era ela dançando de camisola. Rodopiava por todo o quarto como se fosse um palco. Sua irmã a olhava de longe como se Elena fosse uma criatura fantástica de seus sonhos de criança. Lentamente, do sofá, senti suas mãos deslizando sobre meu cabelo ondulado. Continuamos em silêncio por um bom tempo até que, quase que sussurrando, me perguntou o que eu estava fazendo ali. – Sendo a única testemunha de sua morte – respondi. Lágrimas desciam por seu rosto. Havia um lencinho rosa ao lado da televisão e nele tinha um ursinho bordado junto ao nome de sua irmã. – Era dela? – perguntei. – Não... É pra diminuir a saudade. – disse com voz rouca. Aproximei-me de Elena fui secando suas lágrimas. – Estou oca. E o que mata é essa angústia! Eu sempre tenho que esperar! Até a morte gosta de me ver aflita!
     Quem a conheceu jamais se esquecerá de seus olhos vivos e brilhantes. Ela era do tipo de mulher que arrancava sorrisos de sua plateia só de estar ali, presente. Nos tempos de escola todo mundo que eu conhecia era apaixonado por Elena. Inclusive eu, é claro. E por ironia fui o escolhido para vê-la caída. A morte nunca combinou com ela, pelo contrário. Creio que não encontrarei pessoa mais viva e intensa. Quando a vi naquele estado sabia que não havia nada a ser feito. – Está um pouco frio, vou pegar umas cobertas. – Falei. Quando voltei ela estava soluçando. Coloquei o cobertor por cima dela e, olhando nos meus olhos, me perguntou: – O que é que te mantém vivo? – Ter esperança de que tudo melhora. De que os ciclos se completam. – falei. – E quando o ciclo termina e não há como melhorar?
       Sempre fui péssimo em consolar pessoas ou tirá-las de tristeza profunda. Sempre achei que em situações assim não há como compreender uma dor que não sinto ou mal posso imaginar. Deitei no chão ao seu lado e segurei sua mão. – Estou com sono. – ela disse. – Descanse. Amanhã é outro dia. – falei. Permaneci algum tempo olhando para ela. Esperei-a dormir e em seguida adormeci também. 
      Não houve outro dia para Elena. Quando o sol nasceu, seu corpo estava frio. Seu rosto esboçava um sorriso. Era como se ela estivesse feliz por não ter mais que esperar pela morte. Seu ciclo estava completo. Seu celular fez um barulho de sininhos e começou a tocar Turn to Water. Era o despertador que estava programado para as 7:00am. Levantei, liguei para o hospital que ela periodicamente era internada, beijei seu rosto e virei água. Escorri para dentro do chão de sua sala e de lá não saí mais.
      E a música ainda ecoa em minha cabeça... touch me... touch me...
      I turn to water...


Gabriel Lopes Sattelmayer






*Texto inspirado no documentário Elena. 

domingo, 1 de setembro de 2013

Pra você saber

Pra você saber
Que todos os pares de rimas poéticas
São forçadas
Burras e patéticas,
Parto ao meio a minha alma
E te ofereço
Como um pedaço de bife
Para que me devore em um segundo
E que vomite
Todas as vírgulas e pontos
Que nos são cabíveis.
E ao final das contas
O que te sobra?
Se parte da razão que perdemos
Nos levasse ao gesto
Que não fizemos,
Das duas, uma:
Deterioraríamos na desgraça dos criminosos
Ou seríamos a parte
Do todo que nos falta.
Contigo eu serei feliz
Até a gente acordar
E se permitir.

Gabriel Lopes Sattelmayer


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Conversas de noites frias

     Arrepia a pele este frio que me toca. O tempo é daqueles que não se veem pássaros no céu. -“Olá, caros amigos! Ressurgi das cinzas para abençoá-los com o prazer de minha companhia”. Todos estão inundados até os ossos por esse clima ártico. Fumaça, cafés, peles de animais, circulares súplicas e reclamações ardem como febre de início de gripe. – “Trouxe vinho! E do Porto! 400 reais, acreditam? Uma pechincha!”. As horas no frio são lentas, preguiçosas. Um cachorro moribundo se acomoda no tapete da entrada. A menina ali do lado, aquela de dreads toda enrolada em panos coloridos e símbolos da paz, está tão perdida no mundo virtual que parece um zumbi. Completamente vidrada em seu celular. Capaz de reproduzir somente alguns ruídos como: “hum”,”ham”. Deve estar em alguma dessas redes sociais. Patética!
     Me identifico com ela. Ambos somos patéticos! Alheios a qualquer informação que venha de fora, mas sujeitos a pescar o assunto como mágica em seu ultimo suspiro de vida. –“Aí eu já não sei mais o que fazer com ela. É uma vagabunda! E não sai mais do meu pé. Não sei que diabos fiz pra me envolver com essa vagabunda”. -“É... Essas vagabundas são fodas...”. Não imagino quem era a vagabunda da conversa, mas também não me interessava. Aos olhos de Charlie, qualquer mulher que não suportasse seu ciúme doentio e suas crises de carência e fosse cantar em outra freguesia já seria uma legítima vagabunda. E todas as vagabundas SEMPRE estavam aos seus pés. Pela janela conseguia ver a lua. Parecia um grande queijo. Desde criança acreditava que a lua era um queijão. Achava melhor do que ver São Jorge. –“Mas eu também... Perdi o tesão. Meu relacionamento foi como essa cerveja. Estava gelada quando pedi... Agora está quente e sem gás.”. Essa foi demais! – “E com essa, me retiro! Boa noite, pessoal!”.
   Preferia ver São Jorge a ficar mais meia hora ali. Percebo como estou pobre de espírito. Me incomodando com cada coisa besta! Desviei o caminho. Há um gramado perto daqui muito bom de se deitar. Tudo está úmido e gelado. Deito e me encolho no gramado. Por instantes me vejo como o cachorro do tapete deitado em seu mísero conforto. Meus pensamentos se perdem em lembranças e desejos. Naquela noite, como há tempos não fazia, adormeci.



Gabriel Lopes Sattelmayer