terça-feira, 18 de setembro de 2012

Testando palavras


   Se agonia fosse a palavra certa para mostrar a intensidade dos meus momentos de espera, seriam sofridas as minhas noites. Se o medo ilustrasse a minha falta de palavras, seriam indecisas as poucas de me escapam.
   Compartilhamos nossas almas por mero desejo da carne e aqui estamos nós... Vivos! E por mais insanos que nos considerem, somos o vento que um dia há de mover moinhos.
   E se “a capacidade do ser humano de criar interesse é natural”, naturalmente desejo me tornar parte de você. Alimentar a força que não permite que o mundo se canse de girar. Seguir o ritmo da inevitável transformação da qual fazemos parte.
   Queria poder traduzir a felicidade de senti-la passear em minhas noites repetindo nossas falas baixinho para não acordar ninguém, mas há certas palavras que, concordo com você, por mais que eu tente, não podem ser escritas, apenas sentidas. Mesmo não fazendo parte do universo cognitivo da escrita, poderá você me sentir?
     Te quero!
     Te cuida!


Gabriel Lopes Sattelmayer

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Vendedor suicida


Afugenta a paz de seus sonhos
Com uma dose alcoólica
De melancolia
E cria
À sorte de sua noite
O que seria a sua morte.

Rasga a página de sua alma
E vai dançar a estridente sinfonia
Da agonia
De ser mais um hipócrita
Em busca de alegria.

Deita ao lado de um metrô
E escolhe a dedo a sua vítima
Com seu desejo suicida
De trocar cigarros e bebida
Por falsas histórias de sua vida
E nada mais.


Gabriel Lopes Sattelmayer


quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Charlotte


Londres, 5 de dezembro de 1995


Charlotte,

     O vento do sorriso que você me deixou aquele dia, acaba de tocar-me a face. Ainda tomo o mesmo cappuccino na padaria da Rua 13 e, acredite, absorvi seu hábito de ler jornais pela manhã. Ainda acho um monte de baboseiras sem tamanho, mas pelo menos sinto como se você estivesse comigo. Li sobre uma peça de teatro que acontecerá sábado na Fortune Theatre, mas não me interessei. Não seriam sinceros os meus aplausos depois de ter sido testemunha de sua arte. Não há ninguém como você, meu amor!
     Estou escrevendo um livro para que o tempo voe, mas meus contos são sempre sobre nós. Somos guerreiros, viajantes, animais, objetos... Somos o que quisermos! Desconheço outro alguém que traduza palavras minhas com tal beleza. Talvez seja por você viver também em meu tinteiro.  Que saudade!
     Ainda espero o dia que você me tire desse lugar cinza. Não parou de garoar desde a sua partida e eu já não aguento mais tanta melancolia. Estamos à mercê do destino, mas quem é o destino perto de nós? Somos imortais! Temos toda a eternidade!
     Que seu brilho realce as cores dessas terras quentes! E mesmo estando em hemisférios diferentes, não deixamos de estar juntos.

Um beijo de seu eterno amado
Benjamin.



Gabriel Lopes Sattelmayer