quarta-feira, 30 de maio de 2012

Morte


     Fantasmas. Fantasmas nascem de mortes mal resolvidas. A arte domina a vida e concebe a morte. Seria eu capaz de matar, não sei se em verso, mas talvez em prosa, a existência de minha vida? Ou de outras vidas? Ceifar de quem ou o que eu quiser o direito de viver em mim? E se o problema for “querer”? E seu eu transformasse em uma música? Um rock’n’roll, talvez. Um rock’n’roll seria ótimo, mesmo com meus ouvidos clamando por um blues. O blues da piedade, talvez (risos nervosos). Talvez um quadro, ou uma fotografia. E se fosse algo pequeno? Que eu pudesse esconder em qualquer lugar? Ou talvez em uma pessoa! Então eu não teria controle. Uma pessoa qualquer que reagisse de uma forma qualquer a qualquer reação minha. E que, num momento atravessado, atravessasse a rua e partisse sem ao menos olhar para trás. Não tivesse nome ou endereço. Muito menos conhecidos que trouxessem notícias. Perder-se-ia nas ruas infinitas dessa cidade grande. Desapareceria. Minha primeira atitude seria a alegria. Mas será que com o peso do tempo eu aguentaria?

Gabriel Lopes Sattelmayer

terça-feira, 15 de maio de 2012

Vazio

    Ele já não suportava mais qualquer tipo de som em forma de palavra. Palavra nenhuma. Escritores, cantores, amigos, amores não passavam de ruídos estridentes. Foi-se a época dos textos românticos e das súplicas desesperadas por qualquer tipo de sentimento. Esvaziou todos os copos que estavam descansando por anos em cima de sua mesa e jogou-os na pia. Racharam todos!
     Desfez-se de sua mobília, de seus quadros, de suas plantas. Trancou os quartos, o porão e a cozinha. Manteve somente seu tapete para diminuir o frio do chão de sua sala. A sala haveria de ser o seu lar por muito tempo. Passou a preferir que as visitas ficassem apenas ali... Desconfortáveis... Plantadas em qualquer canto de uma sala que não havia cantos.
     Com o tempo comprou um cachorro. Sempre simpatizou com animais. Eles amam incondicionalmente quem os dá o mínimo de carinho. Capazes de amar mesmo os que os cuidam por obrigação, sem nenhum afeto. Capazes de, com sua inocência, arrancar sorrisos do mais ranzinza dos seres.
     Era disso que ele precisava. Um amor incondicional.


Gabriel Lopes Sattelmayer