Ele já não suportava mais
qualquer tipo de som em forma de palavra. Palavra nenhuma. Escritores, cantores,
amigos, amores não passavam de ruídos estridentes. Foi-se a época dos textos
românticos e das súplicas desesperadas por qualquer tipo de sentimento.
Esvaziou todos os copos que estavam descansando por anos em cima de sua mesa e
jogou-os na pia. Racharam todos!
Desfez-se de sua mobília,
de seus quadros, de suas plantas. Trancou os quartos, o porão e a cozinha.
Manteve somente seu tapete para diminuir o frio do chão de sua sala. A sala
haveria de ser o seu lar por muito tempo. Passou a preferir que as visitas ficassem
apenas ali... Desconfortáveis... Plantadas em qualquer canto de uma sala que
não havia cantos.
Com o tempo comprou um
cachorro. Sempre simpatizou com animais. Eles amam incondicionalmente quem os
dá o mínimo de carinho. Capazes de amar mesmo os que os cuidam por obrigação,
sem nenhum afeto. Capazes de, com sua inocência, arrancar sorrisos do mais
ranzinza dos seres.
Era disso que ele
precisava. Um amor incondicional.
Gabriel Lopes Sattelmayer
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