terça-feira, 15 de maio de 2012

Vazio

    Ele já não suportava mais qualquer tipo de som em forma de palavra. Palavra nenhuma. Escritores, cantores, amigos, amores não passavam de ruídos estridentes. Foi-se a época dos textos românticos e das súplicas desesperadas por qualquer tipo de sentimento. Esvaziou todos os copos que estavam descansando por anos em cima de sua mesa e jogou-os na pia. Racharam todos!
     Desfez-se de sua mobília, de seus quadros, de suas plantas. Trancou os quartos, o porão e a cozinha. Manteve somente seu tapete para diminuir o frio do chão de sua sala. A sala haveria de ser o seu lar por muito tempo. Passou a preferir que as visitas ficassem apenas ali... Desconfortáveis... Plantadas em qualquer canto de uma sala que não havia cantos.
     Com o tempo comprou um cachorro. Sempre simpatizou com animais. Eles amam incondicionalmente quem os dá o mínimo de carinho. Capazes de amar mesmo os que os cuidam por obrigação, sem nenhum afeto. Capazes de, com sua inocência, arrancar sorrisos do mais ranzinza dos seres.
     Era disso que ele precisava. Um amor incondicional.


Gabriel Lopes Sattelmayer

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