Quem a
conheceu jamais se esquecerá de seus olhos vivos e brilhantes. Ela era do tipo
de mulher que arrancava sorrisos de sua plateia só de estar ali, presente. Nos
tempos de escola todo mundo que eu conhecia era apaixonado por Elena. Inclusive
eu, é claro. E por ironia fui o escolhido para vê-la caída. A morte nunca
combinou com ela, pelo contrário. Creio que não encontrarei pessoa mais viva e intensa. Quando a vi naquele estado sabia que não havia nada a ser feito. –
Está um pouco frio, vou pegar umas cobertas. – Falei. Quando voltei ela estava
soluçando. Coloquei o cobertor por cima dela e, olhando nos meus olhos, me
perguntou: – O que é que te mantém vivo? – Ter esperança de que tudo melhora. De
que os ciclos se completam. – falei. – E quando o ciclo termina e não há como
melhorar?
Sempre fui péssimo em consolar pessoas ou
tirá-las de tristeza profunda. Sempre achei que em situações assim não há como
compreender uma dor que não sinto ou mal posso imaginar. Deitei no chão ao seu
lado e segurei sua mão. – Estou com sono. – ela disse. – Descanse. Amanhã é
outro dia. – falei. Permaneci algum tempo olhando para ela. Esperei-a dormir e em seguida adormeci também.
Não
houve outro dia para Elena. Quando o sol nasceu, seu corpo estava frio. Seu rosto
esboçava um sorriso. Era como se ela estivesse feliz por não ter mais que
esperar pela morte. Seu ciclo estava completo. Seu celular fez um barulho de
sininhos e começou a tocar Turn to Water. Era o despertador que estava
programado para as 7:00am. Levantei, liguei para o hospital que ela periodicamente
era internada, beijei seu rosto e virei água. Escorri para dentro do chão de sua sala e de lá não saí mais.
E a
música ainda ecoa em minha cabeça... touch me... touch me...
I turn
to water...
Gabriel Lopes Sattelmayer
*Texto
inspirado no documentário Elena.