No reflexo metálico esboço um olhar de alguém que não se reconhece. Alguém que começou do meio sem a lembrança de um início. Cai sobre mim o brilho dourado do metal e dele sinto a paz, a vida, a idéia que o tempo deixou em tom azulado. Do azul não me lembro de nada além de um gosto amargo na boca e uma sensação de desconforto. O conforto me traz saudade. Saudade de quando confortável era apenas ser indivíduo. Quando a coletividade me servia e ela aquecia-me o peito.
É possível não se ter um princípio ou ao menos um pretexto? De minha única metade conhecida, conheço apenas metade. Como alguém que é incompleto pode desejar algo completo? Restam-me as metades. Sufoca-me essa falta de pedaços. Preenchem-me com imaginação. Canso de ser utópico. Disseram-me que sou invenção. Minhas mãos de delicadeza vadia mal são marcadas por minhas digitais. Minhas digitais são fracas, mas existem. Existo.
Gabriel Lopes Sattelmayer.
Existimos... cada qual em seu mundo, por enquanto estamos assim ...
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