quarta-feira, 7 de março de 2012

O mercado

    Acordo assustado com as mãos geladas e picos de taquicardia. Desenhos de navios e paisagens se movem e interagindo com as margas das infiltrações na parede. Animais correm em sentido oposto à rota traçada pelo pintor que os criou. Móveis escorrem, paredes entortam, pessoas passam... Todas elas carregam asas expondo verdades que querem vender. Aqui é um grande mercado. Um Mercado de pensamentos!
    Cada loucura exposta possui seu preço e aqui só aceitam vale-alma. A regra é até que bem simples de ser explicada: Aqui não se julga nada e cada um é responsável pelo produto adquirido. Não aceitam devoluções e muito menos “bla bla bla’s”. O sistema daqui é antissistema. O foco é ser uma alternativa para caçadores de alternativas. Funciona mais ou menos como o doce de uma planta carnívora. Caçadores viram a sua própria caça. Mas agora o céu tem mais estrelas e meu corpo parece flutuar. Não sinto mais cheiros nem ao menos gostos, meus sentidos cansaram de mim... Agradeço apenas por continuar pensando.
     O Mercado está lotado e tudo que eu queria agora era poder mostrar pra vocês todas essas almas que vejo vagando por toda parte... Ah, como eu queria mostra-las! Coitadas... São nada mais que capital de giro. São gastos, são investimentos, são objetos. E o Mercado cada vez mais lotado... Pessoas do lado de fora tomam café e ouvem blues enquanto discutem as desgraças de suas vidas almejando estar, nem que seja apenas uma vez, dentro do grande Mercado. Vivo aqui há muito tempo e sei que quase nenhum deles suportaria, pois nem todos eles atravessam paredes como eu. Nem todos conseguem se desfazer e se metamorfosear como eu. Pra viver aqui é obrigatório deixar de existir sem deixar de viver. Aqui o que conta é como você está e não como você é...
     Raros são os que vendem aqui... Só quem domina a sua não existência é quem vende. Esse é o motivo de existirem tantas almas andarilhas... Quem entra aqui busca ser algo. Ninguém é nada aqui e essa é que é  a jogada! Ah... Antes que eu me esqueça, tenho aqui o ultimo frasco da melhor safra de loucura dos últimos 10 anos extraída da mente de Dom Juan e armazenada em temperaturas abaixo de 30 graus negativos. Aceito pagamento em até 10 vezes sem juros no vale-alma ou troco por mentes vazias.
     Qualquer dúvida... Aqui está o meu cartão... Tenha um bom dia!
     Desmaio...

Gabriel Lopes Sattelmayer

3 comentários:

  1. dá pra fazer um filmezinho trash muito louco.
    huahuahauauhauaha

    adoro suas descrições detalhadas.

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  2. Viajei!
    Se tiver um frasquinho com as dúvidas de Nietzsche ou um outro com as inseguranças de Cristo lhe dou minha mente como pagamento. Aceita mente recém-esvaziada? Tenho a nota-fiscal com a data do esvaziamento. rs

    Muito bom o texto Gabriel!
    Estilo surreal... deu até vontade de beber dele em breve. haha
    Parabéns. Show mesmo!

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