Margareta é moça simples. Não abre largos
sorrisos ou faz questão de muita sala. Margareta é pessoa prática! Executa as
funções básicas como ninguém. Cozinha como ninguém, lava como ninguém, passa,
trepa como ninguém. Margareta é louca por sexo. Deita-se com qualquer um, não
tem muitos critérios. Margareta é daquelas que trepa mas não geme. Não sente
nada. Na rua, Margareta é chamada de vadia, prostituta. Mas não é seu corpo que
ela rifa. Margareta rifa sua alma... Rifa sua alma a cada encontro. Uma alma
que nem ela própria sabe que existe.
Margareta é dançarina. Bailarina desde os
tempos de menina. Seu corpo e leve e sem graça como uma pluma, mas seus
movimentos pausariam a respiração de um Teatro Municipal. Margareta não sente
nada. Nem mesmo a sua arte. Margareta não chora... Ou pelo menos não chorava.
Hoje é noite especial. Baile de fim de ano.
Mas Margareta não sai de casa. Pega uma única vela e coloca no centro da sala. Fecha
o vidro da janela e desprende a cortina. Caminha até o rádio e escolhe alguns
CD’s. A rua está movimentada do lado de fora. Bêbados caminham de branco caindo
e mijando em todas as ruas. Pessoas riem e cachorros latem. É quase meia noite.
A música começa lenta. Margareta se prepara para iniciar a coreografia. A
cidade se cala por alguns instantes e retorna em uma única voz: Dez! Nove! Oito!
Sete! Seis! Cinco! Quatro! Três! Dois! Um! VIVA! Os fogos explodem. A música
acelera. O reflexo dos fogos na sala escura em conjunto com os violinos da
música e o eco das vozes gritando “viva” embalaram Margareta. Pela primeira vez
Margareta se envolve. Luzes, explosões, violinos, gritos, vozes, música,
dança, luzes, explosões, violinos, gritos, vozes, música, dança e tudo acaba em
um grande estrondo do ultimo fogo de artifício que pareceu ser ensaiado
com a música. Margareta cai. Pela janela ela ainda vê o resto das faíscas da
ultima explosão. Margareta chora. Margareta ama. Margareta vive. Pobre
Margareta.
Gabriel Lopes
Sattelmayer
Achei.
ResponderExcluirMargareta é a Geni escondida nos cantos cotidianos, nas ruas sujas de humanidade, dentro da mente de muitas mulheres... não?
E há qualquer eco goetheano aqui... que Werther te abençoe.