Com uma
expressão de cansaço andava o rapaz pelas ruas da cidadezinha carregando sua
enorme mochila preta carregada de livros e cadernos que davam violentos saltos
no interior da mesma acompanhando a variação dos passos. Seus passos eram
marcados por um contínuo som metálico oriundo de um molho de chaves que,
outrora, havia sido pendurado clandestinamente em sua mochila. O som ecoava em
sua cabeça de tal maneira que o hipnotizava. Projetava a imagem de sorrisos, de
olhares, da sacada, do café, da TV, do trem, do sol, das árvores, da aventura.
“Escolha o caminho, aventureiro!” – gritou e começou a rir. O cansaço e a fome
doíam. Foi nesse momento que ele avistou ao longe uma padaria que se localizava
na esquina de uma rua larga. Na vitrine averiguou o que tinha para comer.
“Temos somente pães de queijo e casadinhos, senhor”- disse o atendente. “Eu
sei, é o cardápio comum de padarias de esquina”- disse sorrindo e saiu. O
atendente haveria de dormir sem entender o que ele queria dizer.
O som da chave o acompanhava aonde quer
que ele fosse. Pensou várias vezes em tirá-la dali, mas não tinha coragem. Ele
se perguntava a cada passo o porquê daquela chave estar ali. Pensou em voltar
para devolver, mas já tinha andado demais. Não agüentava dar mais nem um passo.
Foi nesse momento que um banco de madeira surgiu a sua frente. Pensou ser uma
miragem e quase chorou de alegria quando viu que era real. Deitou no banco,
usou sua mochila de travesseiro e ficou olhando o céu. Tentou dormir, mas não
tinha sono. Levantou e resolveu ficar sentado. “Caralho!... Como não reparei
nisso antes.”. Havia uma enorme torre com um relógio que lembrava aquela de
Londres bem ao seu lado. Nesse mesmo instante lembrou-se do velho louco. “Eu
sou nuvem passageira. Que com o vento se vai. Eu sou como um cristal bonito.
Que se quebra quando cai.” – repetia o que o velho louco sempre lhe dizia.
“Sábios loucos”. Apanhou sua mochila e continuou a andar. Não suportava mais o
barulho das chaves. Arrancou-as da mochila e guardou-as numa caixinha de
madeira que havia ganhado de presente. Subiu em um muro e avistou ao longe uma
enorme árvore branca com raízes imensas. Desceu do muro e resolveu caminhar até
ela. Era enorme e imponente. Branca da raiz às folhas. “Um belo lugar! Que
tal?”- disse enquanto colocava a caixinha de madeira no pé da árvore. Com um
enorme sorriso estampado no rosto, resolveu voltar para a cidadezinha por um
caminho novo. Uma rua completamente movimentada. Havia barracas, tendas,
crianças, jovens, adultos, velhos, carros, bicicletas, uma bagunça! Ele andava
sem rumo, atordoado pelo barulho e pelo o número de pessoas. De repente ele sente
uma batida em seu braço direto. Ele olha rapidamente para tomar ciência do
ocorrido e se depara com uma linda moça de vestidinho florido e cabelo Chanel
protegido por um pequeno chapéu marrom. Os olhos da moça leram sua alma. A
situação embaraçou-lhe a mente. Aquele olhar dizia-lhe tanta coisa! Saiu
correndo e esbarrando em todos. Só não reparou que do bolso onde havia a caixa
de madeira, havia caído seu diário.
Gabriel
Lopes Sattlemayer.
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