Vivendo uma
tarde de sexta-feira, estava ele deitado em sua cama sobre o lençol recém
comprado estampado de folhas secas, se alimentando do aroma de café que saía da
caneca esquecida à beira do criado-mudo e tentando regurgitar todo aquele
sentimento repaginado, reescrito e revigorado nas páginas amareladas de seu
caderno.
Do lado de fora, o dia presenteava o
garoto enviando para dentro de seu quarto a imagem alaranjada de um início de pôr-do-sol.
Era mais uma tarde sob o céu de São Paulo. Mais uma tarde na periferia de seu
ser. Foi nesse momento que o garoto, por impulso, arremessou seu caderno contra
a parede e correu até a janela. O vidro mostrava seu rosto pálido sobreposto ao
brilho intenso do sol que também era refletido pelas janelas dos outros prédios.
Tudo brilhava. Tudo refletia. Tudo se mostrava.
Até aquele momento, o menino acreditava
que apenas a presença bastaria para traduzir-lhe a alma e que a voz era
desnecessária, pois, para ele, ela não passava de uma auto-afirmação de cunho persuasivo.
Mas todo aquele brilho, aquele reflexo, aquele grito alaranjado despertou-lhe um
grito visceral seguido de algumas lágrimas que lhe lavaram a gola da camisa.
Estava rompido o laço que amarrava sua voz.
Gabriel Lopes Sattelmayer
Encarar a si mesmo é um teste aos nervos!
ResponderExcluirRodrigo"